segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Na construção de uma militância mais consciente.

"O consumo da carne é para os animais o que o racismo dos brancos é para os negros; o que o antissemitismo é para o povo judeu; o que a homofobia é para os gays e as lésbicas; o que a misoginia é para as mulheres. Todos estes são oprimidos por uma cultura que não quer assimilá-los plenamente em seus termos e com seus direitos. Mas um vazio enorme separa essas formas de opressão das pessoas da forma como oprimimos os outros animais. Nós não consumimos pessoas. Consumimos, de fato, outros animais. Além disso, o consumo de carne oferece as razões para subjugar os animais: se podemos matá-lo, retalhá-los e consumi-los - por outras palavras, aniquilá-los completamente -, podemos também fazer experiências com eles, prendê-los em armadilhas e caçá-los, explorá-los e criá-los em ambientes que os aprisionam, como as fazendas de confinamento e as áreas de exploração de animais com pele comercializável."

Simone Weil

Onde eu possa encontrar a paz-poética-simples desejada.





Alagamar, Dezembro de 2013.
Da rede no alpendre.

sábado, 30 de novembro de 2013

Andarilhagens | Sob um céu de clara-noite

Olhe só, moça
esse engraçado céu do sul
o relógio diz: são oito
mas o sol ainda claro
ainda não repousou
lá no nordeste se diria que é detardezinha.

Olhe só, moça
que cidade mais gozada
diferente de nosso amado sertão
sertão nordestino que vem dentro
no coração
no sotaque
no jeito
e no riso alto

Olhe só, moça
já começa a escurecer
são nove por aqui
mas não se vê estrelas, nem luar
aquele luar do sertão
poetizado e admirado
sinto falta, como digo
de olhar o céu assim.

Moça, abraço-te
porque teu riso típico-nordestino-aventureiro
me parece poesia
sua prosa tranquila
e teu jeito faceiro risonho
feito mulher sem medo da vida
me faz encantada rir
me aproxima de mim mesma

Esses encontros únicos da vida
em meio a tantas conjunturas
faz o coração militante-combatente
sentir a beleza da vida
dessa vida que é tão cotidianamente
labuta de conflitos
mas que é encontro
serenidade
e amor.

Já é noite, moça.
agora escuro e frio (olhe só!)
Idéia-força do amor, é o que me move.
Dorme, moça e abraça-me
serenamente, sentimo-nos.


Te sinto
e basta.

- Dessa liberdade sonhada e construída diariamente em minha vida
tenho plena convicção que é sentimento dos que amam e lutam por um novo projeto:
o amor livre e o direito fundamental de ser, pensar e sentir o outro.

 24.11.2013 - após uma noite porto-alegrense poética de felicidade simples
inspirado em "um sonho de juana".

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

amor e reticências...

Não sou sua
você não é minha
somos grandes demais para as algemas
( prendo-me somente entre tuas pernas ).
Guarde as ofensas, não me machuque
mostre as garras, me arranhe
arranque sorrisos, gemidos, saudade.
Parta para sempre
e volte com seu orgulho saltando os olhos
eu sorrirei, radiante.
Nossas bocas são sujas
nossos dedos são armas
nossas línguas desarmam
nosso amor é livre.
Mas, olha, não importa as circunstâncias,
meu carinho é teu.

Feminismo poético - Grazi



à morena que me deixou sem palavras,
com saudade do sorriso e das noites-tarde do sul.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Gratidão de sábado-tarde

Bate vento agora
em minha face
e nas folhas de meus livros
espalhados no chão aqui.

Bate vento no cabelo
da guria na estrada
que vai passando correndo
com uma beleza única
que dialoga com a beleza
dessas coisas que contemplo
nesse belo fim de tarde.

passarinhos me visitam
e dançam e brincam
nos pés de acerola e caju
que rodeiam meu lugar
Perto do nim a minha frente
cisca uma galinha, com pintinhos
que correm atrás dela a cada passo dado

Como é bom está aqui
e observar esses detalhes sublimes
esses instantes de beleza
esse vento puro
essa felicidade
esse estar mais perto do céu.

Inspiro-Aspiro
é ar puro
é vento bom
vento do campo
vento que bagunça o cabelo
vento que traz leveza
e um estar bem.

Tudo é verde ao meu redor
tudo soa belo e simples
calmo, encantador
Um galo canta agora
o sol está se pondo
e a noite se aproxima
Ainda ouço meus amigos passarinhos
e os bodes, bois, carneiros que passam
na estrada a frente, onde os meninos brincam de bola.

Tudo é mágico e belo
É a felicidade mais verdadeira que sinto
nesses últimos tempos de cidade
Estou mais do que em casa.
Estou onde minha alma sossega.

- Alagamar, o céu parece está mais perto de mim.
A natureza conversa comigo,
os passarinhos traduzem
as pessoas riem na estrada
reafirmo-me tão sempre mulher camponesa.
Como é bom estar aqui.

Atingid@s.

Nas barrancas dos rios
o povo grita
semeando a resistência
Ao lado: a barragem
aprisiona a água
colocando-a a serviço dos maus.

A barragem inimiga
está ali: grande e destruidora
Cadê minha casa?
meu pé de oiticica
o terreiro, a galinha?
Cadê o Jaguaribe?
Rio de minha infância.
Cadê a piaba, o peixe de domingo?
a calçada o córrego?

Cadê o jumento,
a ancoreta, a lata d'água?
Os meninos indo buscar água no rio
'Inda lembro.
Água-vida
transformaram-na
Água-morte.

A barragem inimiga
levou nossa terra
nossa casa
nosso quintal
até nosso pé de limão
de caju, de juá.
A barragem inimiga
ainda me faz chorar.

Mas, o povo grita!
A barragem não levou tudo
ainda persiste o sonho
a esperança
a solidariedade.
'inda têm a resistência.

Por mais que tentem calar
a nossa voz
o grito ecoa mais alto
que os tiros dos senhores
Por mais que nos roubem o direito de viver
vivo permanece
o sonho.

Água para Vida
Não para Morte!

- ao começar a rabiscar o artigo sobre o Castanhão,
aos companheiros e companheiros construtores e construtoras
da luta pela água e pela vida.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Aos que vierem depois de nós - Bertold Brecht

Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar. 

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles. 
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra. 

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.




aos companheiros de luta diária.

domingo, 27 de outubro de 2013

Exagéro

bem, esse teu desdém
esse querer bem
que só você tem
chega dá medo

bem, sinto
e junto pressinto
que esse labirinto
vai continuar
quase
penso em te sequestrar
pra você ficar
ao meu lado, sim

bem, incomoda
o teu sempre ir
pois é ruim aqui
sem você estar
choro
e junto imploro
pra isso até decoro
um poema de amor

coração
grita no meu peito
pois não sem direito
como suportar
quero
e junto espero
que o nosso amor
possa continuar

sempre com o dengo
com chamego
e o amor de sempre
chegue
com as velhas brigas
pois você não fica
sem o meu amar.

- sobre uma confusão de ideias e sentimentos

sábado, 26 de outubro de 2013

Quem vai pagar o enterro e as flores, se eu morrer de amores?

Vinicius de Moraes.

Espero-te

já é tarde
mas te espero
logo a noite
vem chegando
com a lua
os sonhos
e a solidão

vejo as horas
e te espero
o relógio parece
propositalmente
machucar
o coração-amante

escrevo
e te espero
sei que não vens
mas espero
conforta-me a ideia vã
da sua chegada

chegue cá, dengo
chegue assim chegando
sem plano
sem pressa
chegue com amor.

- à um moço que espero em meus sonhos.

Sobre sonhos e resistências.


Nas andanças dessa vida, um agricultor me disse certa vez com toda sua sábia simplicidade peculiar que "a gente nunca deve desistir, pois juntos trabalhando e lutando por nossos direitos e sonhos, um dia (por mais longe que esteja) a gente vence os homens maus."

É sempre animador ver a beleza da luta nestes caminhos que a gente percorre, mas ao mesmo tempo é sempre um desafio pro coração de militante enxergar a realidade nua e crua em que vivem os nossos camponeses e trabalhadores de todo o mundo, expropriados e privados de seus direitos básicos.

A cada dia que passa, com tantos novos desafios, com tantas forças contrárias atuantes, com tantos passos a caminhar e tanto ainda a aprender, tenho tido cada vez mais certeza daquilo que quero trilhar e construir para minha vida e a serviço de quem estará o meu conhecimento, enquanto profissional, enquanto militante, enquanto gente.

Tenho sido povo e persisto continuamente em ser povo e a construir-me coletivamente combatente defensora da classe trabalhadora.

Me angustia ainda o quanto temos a avançar e como somos ainda pequeninos diante dos donos do poder. Mas reafirma-se a certeza da justiça e da beleza do nosso projeto a cada riso tímido dos agricultores e agricultoras ao falarem da resistência e da necessidade de lutar, a cada mão que apertam as minhas mãos, me fazendo sentir e testemunhar as rugas de toda uma vida de trabalho e sofrimento . 

Completa-me minha gente e sua discreta esperança, seu sorriso amarelado, sua pele enrugada que traduzem muito mais do parece. Seu sotaque simplificado dizendo muito mais do que eu sei dizer.

É sempre motivo de alegria e renovação saber que em cada canto desse vasto mundo há semeadores de sonhos, há companheiros e companheiras firmes nas lutas, trabalhando na perspectiva da transformação social.
É minha gente
e com eles luto
acredito
amo
e sonho.

Para os homens maus, gritemos:

Com todos os semeadores de vida, com todos os sonhadores, com todos os agricultores e agricultoras, trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo.
Pela mãe terra soberana, pelas sementes, pela água, pela justiça social, pela vida, pelas mulheres, por Zé Maria e todos os companheiros que tombaram na luta

NÓS NÃO DESISTIREMOS NUNCA!

"Sonhar enfim com a vida, com respeito e igualdade. Sonhar com dignidade e um mundo não dividido, com um povo tão sabido que chega até ser medonho. Sonhar em fazer do sonho um grande acontecimento, onde todos os dedos se cruzando, segurem a delicadeza e, acalentem a pureza de quem sonha, mas lutando." (Ademar Bogo)

Globalizemos a luta
Globalizemos a esperança.



25.10.2013 - 
Fim de tarde, ao chegar da caravana, com o coração pulsando forte
 e os sonhos de mudança cada vez mais presentes.


domingo, 20 de outubro de 2013

uma praça, uma lua, um voo

O vento sopra a favor
daqueles que vivem sem medo
numa praça
num banco
na grama
vozes falam de liberdade

o vento sopra a favor
e a lua engraçada
brilha lá de cima
tão longe
e tão perto
parecendo sorrir
deve perguntar intrigada
o que faz uma moçada
se encontrar ali parada
olhando pra ela assim

Ah, lua. Se tu sabes
a beleza que tu tens,
se tu sabes que os sonhos
se reafirmam cada vez mais
ao testemunhar
a beleza do que é simples
como os galhos dessas árvores
e o vento que balança os cabelos
da moça bonita
como os risos desses moços
que vão passando por aqui

queria eu poder te tocar,
mãe lua
queria realizar esses sonhos de menina
de um dia, talvez um dia
ter a graça de voar
pegar a lua um pouquinho
e nina-lá nos meus braços

E agora, o que falo
faz mais firme o que sou
me firmo
reafirmo
e sigo
construindo novos trilhos
desbravando novos ares

Ao meu lado, pouca gente
tantos sonhos
tantos planos
quero poder ficar assim
continuamente melhor
ao lado desses que como eu
sonham sem medo
sonham sem pudor
de um dia conquistar
o que o mundo todo quer
mas esquece com a rotina
com as chatices, com os problemas
continuo com aqueles
que continuam a querendo:
alçar vôos.

Com os companheiros de faculdade, numa noite fria e bonita
Praça do seminário
"a lua está tão bonita"

MarinaC.

sábado, 19 de outubro de 2013

está longe, mas aqui.

É madrugada.
Meus livros estão espalhados no chão do quarto mais quente da casa. Faz calor, mas recuso o ventilador guardado no canto - eu realmente não consigo me adaptar a essas coisas da modernidade.
Prefiro o vento que vem devagar e pausadamente da janela da cozinha - aberta a noite toda, por preferência de quem gosta de acordar com luz do sol e para amenizar o calor intenso de uma das cidades mais quentes desse Ceará nordestino.

Faz silêncio. Todos dormem e ouço somente o barulho de alguns automóveis - poucos - transitando por aí. Definitivamente - dentre muitas outras - isso é uma das coisas que não gosto nas cidades.
De um lado tento me concentrar nos estudos acadêmicos - fórmulas, cálculos, muitas folhas de rascunhos, muitas dúvidas - mas meu pensamento e o coração insistem em viajar pra longe.
Quero um mundo além dessas fórmulas, dessas normas, disso que a academia tem pra mim.

Hoje, gostaria de está em casa talvez. No meu campo cearense e tranquilo. Ouviria o vento e as folhas das árvores dançando, no alpendre em minha rede branca com cheiro de mãe.
Do mesmo modo, quereria eu estar com os muitos companheiros que estão em luta contra essas coisas insanas desse mundo cão. Gostaria de abraçá-los - tod@s - e passar a noite acordada, analisando a conjuntura, com frio na barriga e no corpo, mas com o coração quente vermelho-sangue.

Faz um silêncio doloroso agora.
Não me conforma ter que está aqui. Não me conforma ler fórmulas baratas de uma educação mercantil. Não me conforma a lógica perversa dessa educação que aprisiona e domina.

Quero povo. Quero gente.

Sobre amor e libertação...

em meu caderno de anotações
beirando a folha
no canto direito
tem seu nome, amor
sua letra cursiva
dialoga com meus rabiscos diários.

tem seu cheiro em minha pele
e seu corpo em minha mente
o seu riso, sua prosa continua sempre em mim
jamais esqueço
de quando te tenho a meu lado

é ternura e encantamento
paz e êxtase
é um querer sacana-poético
em sonho e realidade

eu maluca
com meu riso alto
e sonhos tantos e loucos
de ser livre
e feliz
você, com medo
me olha e desconfia
aos poucos se aproxima
me nina
me ama
me ensina

cada dia, o dia é triste se não estou a seu lado
cada instante - se distante - é uma eternidade.


à quem tem me feito compreender cotidianamente o que é ser mulher.

MarinaC.

domingo, 13 de outubro de 2013

despedidas e cheganças

invejo-te sempre, menina.
invejo-te sem pudor.
invejo-te por conseguires tão facilmente
o que tanto tenho tentado
nesse meu velho caminhar.
invejo-te, menina: sua capacidade de amar.

quando te chego e falo das loucuras dessa vida,
e tu ri, preocupada, sem entender quase sempre,
porque é que teimo tanto em continuar assim,
e eu rio mais ainda, por você gostar de mim.

Sei que tens medo, menina. De um dia eu não voltar.
Que a cada saída minha há uma nova insegurança,
sei que rezas para o seu bom Deus proteger-me,
queria te dizer, menina, que também tenho medos tantos,
que nunca falo, para nunca angustiar-te.

Mas eu volto, e você sabe.
Logo, logo, chegarei,
com mais uma bagagem,
com uns poucos livros novos,
com histórias pra contar.

Minha vida, minha menina, você sabe
será sempre assim: de despedidas e cheganças.
Nessa distância que me encontro do seu bondoso olhar,
rio sempre e me entristeço por você não está aqui,
queria poder dizer da minha felicidade,
dizer que me acho na beleza das coisas simples
e me enfeito de natureza.

Sinto sua falta, menina
mais falta do seu olhar,
chego logo, qualquer dia
pra poder te abraçar
chego já, minha menina
pois sempre irei voltar.


na madrugada de uma ocupação
para a menina dos olhinhos de amor.
Set. 2013

que sempre é necessário um dengo na vida.

não sei o que quero
tudo bem
não sei
não sei o que amo
tudo bem
não sei
não sei se desejo
tudo bem
não sei
só sei que te sinto
as vezes perto
as vezes longe
as vezes em mim.
amor de quinta
amor de vanguarda
continuo a querer não querer você.


 À um comunista estratégico e sorridente que me confunde
e me faz sonhar.

MarinaC.


Antes de entardecer...

Antes de entardecer,
quero escrever um poema
desses que falam de amor e saudade
desses que nos fazem flutuar num mundo a parte.

Antes de entardecer,
gostaria de um telefonema
pois a noite se aproxima
a lua já se mostra, mesmo tímida
e doeria muito contemplá-la
sem te sentir por perto.

Antes de entardecer,
leio clássicos poemas,
ouço cantores antigos
e me perco numa embriaguez de saudades...

Antes de entardecer,
da janela vejo pássaros
ouço o vento tocando as folhas das muitas árvores que rodeiam o meu lar,
é o mesmo vento que brinca com os cabelos da menina na estrada.

Antes de entardecer,
voltam os homens as suas casas
tão exaustos do trabalho diário
tão sedentos de descanso

Antes de entardecer,
olho para tudo que me rodeia,
são tantos detalhes sublimes,
são tantos momentos profundos,
antes de entardecer, gostaria de conseguir capturá-los
para tê-los sempre comigo.

Antes de entardecer,
fico triste, pois a noite em si é triste
e sei que logo não estarei mais aqui.
antes que a noite chegue e o outro dia se aproxime,
gostaria de contemplar por horas tudo isso que vejo

Já chegou o entardecer,
já é noite
e da janela, vejo a lua
continuo a namorá-la
amanhã já estarei indo.


 Ao entardecer, da janela da minha casa
com os olhos cheios de lágrimas e coração repleto de saudade.

sábado, 12 de outubro de 2013

sobre uma menina que dorme...

tens beleza
que meu coração nunca viu
e dorme
feito anjo
desses que caem do céu
tens cheiro
de mulher grande
de mulher forte
que transpira coragem
e esconde a solidão
tem em si força que invejo
força capaz de enfrentar todo o mundo
mas o sorriso
é de menina-moleca
é da criança que ainda és
sinto-me tão carinhosamente interligada aos seus olhos
que parecem brilhar a minha frente
menininha, menininha
só te digo:
olhinhos como esses
não merecem ver maldade
olhinhos como esses
só podem ver felicidade
mas, menininha
sei que logo acordarás
sei que verás tanta coisa
menininha, não esqueça
do sorriso presente
e do amor necessário
menininha
dorme, sim
feito anjo e mulher
dorme
que só te olho
e sorrio do meu jeito
é que te guardo
e contemplo
menininha
dos
olhinhos
de
amor.



Quando a vejo dormir.

para uma moça encantadora que ouve sempre meus velhos dilemas de amor e luta.

MarinaC.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Sobre amor e poesia.


Nesses dias de incertezas, tenho tentado não relacionar nada que faço à você, 
nem olhar teu número guardado com carinho e com uma espécie de nostalgia e esperança 
no meu caderno de rabiscos diários.
Tenho tentado não olhar tuas fotos e imaginar que junto de você poderia está eu, 
e sorriríamos sempre juntos, sempre com esse amor que seria fogo e ternura, ardência e doçura...
Eu ainda tento não viajar em sonhos e te imaginar ao meu lado, 
bagunçando meu cabelo e me fazendo sorrir...
Você, com toda a sua bagagem revolucionária, 
me parece ter a capacidade de reafirmar o que sou...
E no que você se faz de mim distante, 
também distancia a mim de mim mesma...
E nada posso, se não ficar tentando não pensar, sonhar e lembrar da sua forma sublime e verdadeira de demonstrar esse amor revolucionário.
Sua barba, seu cheiro, tudo que vivi e não vivi com você,
as madrugadas regadas de risos e analises de conjuntura, 
e nosso amor  dengoso-sacana-poético-de-quinta ainda continuam presentes em mim.
Ei moço,
Moço comunista, de barba,
vê se não esquece.
Pois no fundo eu tô tentando tentar não esquecer...


Com amor e saudade, 
a um moço barbado e sonhador que conheci na luta.


Da série: Cartas à alguém que não sei mais o nome.

MarinaC.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Das coisas que me fazem um ser coletivo...



Esse sonho que me toma de forma tão voraz
é acima de tudo e antes de qualquer coisa 
o que me faz ser o que o que sou...

Vejo homens fatigados e exaustos, 
com mãos trêmulas e enrugadas,
que trabalham de sol a sol. 

Vejo mulheres reprimidas e sofredoras, 
que por trabalharem tanto e sentirem no mais íntimo de seu ser 
o peso de ser mulher pobre e não ter opção, 
perdem a notável esperança, 
e endurecem o coração e a alma 
e tudo que de ti faz parte.

São meus irmãos, 
meus semelhantes, 
e é por eles, 
para eles 
e com eles que luto.

Lutar, reagir, resistir, 
por mais que eles sigam desconstruindo o que acreditamos.
Lutar, por que dentro de mim existe uma ânsia 
tão humana e verdadeira, 
que me conduz à Revolução.

Porque em mim persiste forte e sincero 
o amor pelo meu povo.

Lutar porque chegará o dia 
que meus irmãos quebraram as correntes que os prendem 
e os que sempre nos exploraram verão que nada poderão fazer, 
porque o povo terá visto enfim, 
que nada nem ninguém pode domá-lo... 

Então tudo que sonhamos se realizará, 
como em uma nova manhã bela e pura 
e todos sorrirão felizes e satisfeitos 
e se reconhecerão uns nos outros, 
pois todos serão iguais, 
por mais que sejam humanamente diferentes ...

Há de ser lindo.